- Ozan Kose/AFPEm 2010, havia 13 milhões de imigrantes muçulmanos nos países da União Europeia
Até o fim do século, os muçulmanos irão superar os cristãos como o maior grupo religioso do planeta. É o que mostra uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center, centro de pesquisas norte-americano.
Atualmente os cristãos formam o maior grupo religioso da Terra, com aproximadamente 31% dos 7,3 bilhões da população mundial. Os muçulmanos constituem o segundo maior grupo, com 1,8 bilhão de pessoas, ou 24% da população.
Já na segunda metade deste século, os muçulmanos deverão ultrapassar os cristãos como o maior grupo religioso do mundo – serão aproximadamente 3 bilhões de fiéis.
O relatório projeta que, entre 2015 e 2060, o número de muçulmanos deve crescer 73% em todo o mundo, enquanto a média do crescimento populacional deve ser de 35%.
O aumento de muçulmanos não se deve somente ao número de pessoas que se convertem ao islã. A principal causa é atribuída à demografia - os muçulmanos têm mais filhos. Em todas as regiões de maioria muçulmana, a taxa de fecundidade é superior se comparada a famílias de outros credos. E a tendência é que os filhos sigam a religião dos pais.
O crescimento da população muçulmana também é impulsionado pelo fato de que ela tem a média de idade mais jovem dos grupos religiosos - 24 anos.
Mais de um terço dos muçulmanos vive na África e no Oriente Médio, regiões com as maiores taxas de crescimento populacional. As projeções indicam que os muçulmanos crescerão em todas as partes do globo, incluindo a América do Norte, Europa e Ásia.
Na Indonésia, 90% da população é muçulmana. E em países como Índia e Nigéria, é cada vez mais expressivo o crescimento desse grupo. Na Nigéria, em 2050, 60% da população seguirá o Islã.
O intenso fluxo migratório de pessoas oriundas de países onde a maioria segue o islamismo também deve impulsionar o aumento de muçulmanos na América do Norte e na Europa.
Em 2010, havia 13 milhões de imigrantes muçulmanos nos países da União Europeia. Na Rússia, 14 milhões de pessoas seguem o Islã, o maior grupo do continente.
Apenas em duas regiões o Islã não cresce: na América Latina e no Caribe. Nesses lugares, o fenômeno religioso mais marcante ocorre dentro do cristianismo, com católicos se convertendo em evangélicos.
No Brasil, o censo de 2010 do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou apenas 35 mil muçulmanos em todo o país. Um terço deles estaria morando na região metropolitana de São Paulo, que possui diversas comunidades de imigrantes do Oriente Médio.
Origens do islamismo
O islamismo surgiu no século 6 na Arábia, região do Oriente Médio. Naquela época, a população era formada por tribos e clãs, muitas delas nômades. Não havia governo unificado e nem religião própria. Eram comuns comunidades judaicas, cristãs e doutrinas antigas, vindas do Egito e Pérsia e que pregavam o politeísmo (crença em vários deuses).
O criador do islamismo é o profeta Maomé, chamado de Muhammad pelos muçulmanos. Ele perdeu os pais ainda criança, e seu tutor era um condutor de caravanas. Por viajar muito, ele teve contato direto com a religião cristã, da qual ele era um simpatizante.
Quando adulto, o futuro profeta passou a se dedicar a retiros espirituais e, segundo os seguidores do Islã, começou a ter visões divinas. Essas mensagens trazem ensinamentos de Deus para os seres humanos e foram entregues a Maomé pelo Anjo Gabriel, ao longo de 22 anos.
As revelações de Alá determinam que os seres humanos se tratassem com justiça, igualdade e compaixão. A doutrina assimilava tradições judaicas, cristãs e ideais das tribos árabes. Tanto que para os muçulmanos, Jesus não é o filho de Deus, mas um grande profeta.
Admirador do monoteísmo (a crença em um só deus), Maomé passou a pregar a crença num único deus, Alá, e reuniu suas mensagens num livro sagrado para os muçulmanos, o Corão.
Meca era sua cidade natal e foi lá que Maomé iniciou as primeiras pregações públicas. Ele também teria realizado milagres testemunhados por diversas pessoas.
A sua popularidade começou a incomodar as lideranças de Meca e ele foi perseguido. O profeta e seus adeptos fugiram para criar a primeira comunidade islâmica em Medina. Essa emigração forçada ocorreu em 622 d.C. é conhecida em árabe como a hégira, e marca o início do calendário muçulmano (ano zero).
Aos poucos, o profeta atraiu cada vez mais seguidores até ter força para derrotar os rivais que o expulsaram de Meca. Usando como doutrina a nova religião, ele conseguiu unificar as tribos árabes sob sua liderança.
Após morrer, em 632, seu sogro Abu Bakr passou a conduzir a expansão do islamismo, que nos séculos seguintes se espalhou pela Europa, Ásia e África, levado não apenas por árabes, mas também por outros povos convertidos.
O surgimento do Islamismo permitiu à Arábia consolidar uma unidade política e religiosa, fortalecendo-a e possibilitando a expansão de seu Império. Naquele tempo, a cultura árabe era considerada mais avançada do que a cultura medieval.
Durante a Baixa Idade Média (1095-1291), os muçulmanos e cristãos entraram em guerra, no período conhecido como As Cruzadas. Nesse conflito, os europeus partiram da Europa para defender o cristianismo e “libertar” a cidade sagrada de Jerusalém dos árabes.
Em ondas sucessivas, milhares de europeus invadiram o oriente. Como consequência, as cruzadas expulsaram os muçulmanos da Europa e expandiram a influência europeia no Mediterrâneo e no Oriente Médio.
Islamofobia e conflitos
A atuação de grupos extremistas, os governos autoritários, a condição de opressão das mulheres mulçumanas, a falta de direitos humanos são algumas das imagens associadas ao islamismo pelo imaginário popular do Ocidente.
Mas o Ocidente pouco conhece o Islã, uma das religiões mais estigmatizadas do mundo. Por exemplo, é comum associar o homem muçulmano a uma pessoa “bárbara” e a mulher a uma pessoa “reprimida”. É ainda mais comum vincular a palavra “terrorismo” a esta religião. Mas é preciso ter cuidado com esses estereótipos e generalizações.
A xenofobia é o sentimento anti-imigração. Já a islamofobia é o preconceito religioso e o ódio a muçulmanos.
A islamofobia é o crime de ódio que mais cresce na Europa. Comunidades de imigrantes e muçulmanos e seus descendentes relatam o aumento da violência e o medo de saírem nas ruas e serem marginalizados.
Em 2014, por exemplo, a cidade de Londres registrou um aumento de 70% de ataques contra muçulmanos, em relação ao ano anterior. Em 2015, na Espanha, 40% dos delitos relacionados a crimes de ódio foram registrados como islamofobia, superando crimes como o racismo e a homofobia.
Os atentados do dia 11 de setembro, os recentes atentados terroristas na Europa (como o da revista francesa Charlie Hebdo), os conflitos causados pelo grupo terrorista Estado Islâmico e o intenso fluxo de refugiados para a União Europeia contribuíram para reforçar esse tipo de preconceito.
O clima de tensão crescente na Europa faz analistas acreditarem num possível “Choque de Civilizações”. Segundo a teoria do cientista político Samuel P. Huntington, as identidades culturais e religiosas dos povos serão as principais fontes de conflito no mundo pós-Guerra Fria.
O fato é que o aumento da população muçulmana na Europa já gera uma “crise” de identidade cultural. O medo de parte dos europeus é que as comunidades muçulmanas imponham seu modo de vida, costumes e crenças.
Na França, onde existe cinco milhões de muçulmanos, as vestes femininas islâmicas já são proibidas em escolas públicas francesas pelo argumento de que o país é um Estado Laico.
O sentimento de rejeição a imigrantes também alimenta o crescimento de partidos políticos de extrema-direita na Europa, que pregam o fechamento das fronteiras para estrangeiros.
O crescimento das comunidades muçulmanas exigirá do mundo ocidental uma melhor compreensão de sua cultura e novas formas de convivência e inclusão social.
Carolina Cunha, Da Novelo Comunicação